sexta-feira, 28 de maio de 2010

A primeira vez


Finalmente criei coragem e peitei mais uma das minhas frescuras: ontem fui ao cinema sozinha pela primeira vez. Engraçado que quando eu comentei isso com algumas pessoas, umas acharam super estranho e outras disseram que é muito natural.

Eu sempre achei meio depressivo, pois adoro trocar impressões durante o filme e sair comentando as cenas mais interessantes. Ao mesmo tempo, ir ao cinema é algo tão sagrado que eu não costumo e nem consigo compartilhar esse momento com qualquer um.

Com esse dilema acabei deixando de assistir um monte de filme bacana e ontem decidi não perder mais. Arregacei as mangas e fui. Foi o último dia de O Segredo dos Seus Olhos nos cinemas de Fortaleza. Não podia deixar passar mais um filme fantástico assim. Porém, assim como tudo que eu invento de fazer de diferente, meu amigo Murphy me persegue com suas leis.

Cheguei do trabalho, descansei um pouco, tomei um banho, vesti um vestido bem confortável e fui. Já estava na hora da minha fome noturna. Terminei de chutar o balde e fui comer no McDonalds. A sensação é de que todos estavam me olhando comer sozinha, um costume que eu tenho há muito tempo e adoro. Mas que ontem foi estranho.

Depois de saborear um McChicken e um suco de laranja, fui jogar o lixo e separei a caixinha com as batatas fritas (que eu nunca como todas e ontem pareciam ter vindo em maior quantidade que o normal) pra levar pra casa e não estragar. Voltei ao balcão com o intuito de pegar a torta de banana que já havia comprado e ficaram de fazer enquanto eu comia o sanduíche. Mas no meio do caminho tinha uma criança. Uma criança gorda e hiperativa, daquelas que não conseguem falar nada sem movimentar o corpo inteiro. E claro, quando uma minicriatura dessas se esbarra com um ser desastrado que nem eu só pode dar merda. O menininho, de costas pra mim e num movimento que eu nunca vou entender, tacou a mão na caixinha vermelha e foi batata frita, ainda quente e crocante, pra todo lado.

Eu fiquei muda, dei um sorriso amarelo e segui em frente já lembrando minha torta ao atendente. O garotinho, loirinho e de óculos, arregalou os olhos e pediu desculpa umas 15 vezes. Eu realmente não ia comer aquelas batatas e, mesmo se fosse, minha reação teria sido a mesma: "Não se preocupa. Eu não ia comer. É sério", acalentando o pobre coitado com a mão no ombro dele. Recebi a torta, virei pra ir embora e o pequeno infante pediu desculpas de novo. "Tem problema não. Mesmo", falei.

Já estava na hora de começar o filme e eu corri enfiando a torta dentro da bolsa, pois não pode entrar com comida no cinema do Del Paseo (absurdo!), e acabei detectando que era de maçã, e não de banana como eu havia pedido. Tudo bem, mais uma coisa que eu relevo sem problema nenhum.

Na sala, que devia ter uns 10 gatos pingados, um senhor sentado na penúltima fileira assistia televisão pelo celular no volume mais alto. Dava até pra ouvir aquele chiado da mudança de canal. Sentei lá do outro lado rezando para que ele tivesse a noção de desligar quando as luzes se apagassem. De longe eu vi que, quando começaram os trailers, o bendito foi embora.

Uma das vantagens de ir ao cinema sozinha é poder sentar com as pernas cruzadas em cima da poltrona, exatamente do jeito que eu gosto. Sabe, né? Aquela posição que a gente ficava quando sentava no chão no maternal...

Bom, o filme é espetacular e dispensa comentários. Ganhou o Oscar de melhor estrangeiro este ano. É intenso, dramático, engraçado, violento, assustador e romântico.

Terminada a sessão às 23h30, fui pagar o estacionamento naquela maquininha. Nunca havia usado a maldita. Fui a primeira da fila e, portanto, tinha uma galera atrás de mim esperando. Como boa brasileira, não leio placas. Totalmente sem noção, enfiei uma nota de dois reais, que foi prontamente cuspida depois. E não só cuspida. Foi arremessada! Enquanto eu estava na posição humilhante de apanhar o dinheiro no chão, o senhor que estava atrás fala: "Só aceita cédula de 5 e 10". Que beleza, hein?! Vou ter que pagar lá no guichê mesmo. Mas como eu pegava meu cartão de volta?! Obviamente, pensei isso em voz alta e o mesmo cara disse: "Aí em cima, oh... 'Cancelar'". Ops!

Apertei o botão, peguei o cartão o mais rápido que eu pude e corri pro elevador desejando ser invisível. Mas o dito cujo chegou ao mesmo tempo em que O MESMO CASAL estava vindo na minha direção. Eu, muito legal como sempre, segurei a porta pra eles.

Cheguei em casa sã, salva e aliviada. Agora eu já sei que não preciso mais perder nenhum filme bacana. Sou uma ótima companhia pra mim mesma. Meu alto déficit de atenção somado a uma onda de azar sem fim não chegam a estragar meu programa. Foi bom. Foi uma vitória. Palmas pra mim!

E para fechar a noite com chave de ouro, quando eu já estava morta de satisfeita deitada pra dormir, meu melhor companheiro de cinema veio me dizer que se eu tivesse chamado ele teria ido comigo. Eu mereço...

P.S: O filme passa uma mensagem muito bacana: "Pare de pensar, senão você terá mil passados e nenhum futuro."

2 comentários:

  1. Eu vou demais no cinema sozinha. Quando quiser ir no cinema sozinha comigo, é só chamar :) :)

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  2. kkkkkkkkkkkk
    tu eh otima!

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