sexta-feira, 28 de maio de 2010

A primeira vez


Finalmente criei coragem e peitei mais uma das minhas frescuras: ontem fui ao cinema sozinha pela primeira vez. Engraçado que quando eu comentei isso com algumas pessoas, umas acharam super estranho e outras disseram que é muito natural.

Eu sempre achei meio depressivo, pois adoro trocar impressões durante o filme e sair comentando as cenas mais interessantes. Ao mesmo tempo, ir ao cinema é algo tão sagrado que eu não costumo e nem consigo compartilhar esse momento com qualquer um.

Com esse dilema acabei deixando de assistir um monte de filme bacana e ontem decidi não perder mais. Arregacei as mangas e fui. Foi o último dia de O Segredo dos Seus Olhos nos cinemas de Fortaleza. Não podia deixar passar mais um filme fantástico assim. Porém, assim como tudo que eu invento de fazer de diferente, meu amigo Murphy me persegue com suas leis.

Cheguei do trabalho, descansei um pouco, tomei um banho, vesti um vestido bem confortável e fui. Já estava na hora da minha fome noturna. Terminei de chutar o balde e fui comer no McDonalds. A sensação é de que todos estavam me olhando comer sozinha, um costume que eu tenho há muito tempo e adoro. Mas que ontem foi estranho.

Depois de saborear um McChicken e um suco de laranja, fui jogar o lixo e separei a caixinha com as batatas fritas (que eu nunca como todas e ontem pareciam ter vindo em maior quantidade que o normal) pra levar pra casa e não estragar. Voltei ao balcão com o intuito de pegar a torta de banana que já havia comprado e ficaram de fazer enquanto eu comia o sanduíche. Mas no meio do caminho tinha uma criança. Uma criança gorda e hiperativa, daquelas que não conseguem falar nada sem movimentar o corpo inteiro. E claro, quando uma minicriatura dessas se esbarra com um ser desastrado que nem eu só pode dar merda. O menininho, de costas pra mim e num movimento que eu nunca vou entender, tacou a mão na caixinha vermelha e foi batata frita, ainda quente e crocante, pra todo lado.

Eu fiquei muda, dei um sorriso amarelo e segui em frente já lembrando minha torta ao atendente. O garotinho, loirinho e de óculos, arregalou os olhos e pediu desculpa umas 15 vezes. Eu realmente não ia comer aquelas batatas e, mesmo se fosse, minha reação teria sido a mesma: "Não se preocupa. Eu não ia comer. É sério", acalentando o pobre coitado com a mão no ombro dele. Recebi a torta, virei pra ir embora e o pequeno infante pediu desculpas de novo. "Tem problema não. Mesmo", falei.

Já estava na hora de começar o filme e eu corri enfiando a torta dentro da bolsa, pois não pode entrar com comida no cinema do Del Paseo (absurdo!), e acabei detectando que era de maçã, e não de banana como eu havia pedido. Tudo bem, mais uma coisa que eu relevo sem problema nenhum.

Na sala, que devia ter uns 10 gatos pingados, um senhor sentado na penúltima fileira assistia televisão pelo celular no volume mais alto. Dava até pra ouvir aquele chiado da mudança de canal. Sentei lá do outro lado rezando para que ele tivesse a noção de desligar quando as luzes se apagassem. De longe eu vi que, quando começaram os trailers, o bendito foi embora.

Uma das vantagens de ir ao cinema sozinha é poder sentar com as pernas cruzadas em cima da poltrona, exatamente do jeito que eu gosto. Sabe, né? Aquela posição que a gente ficava quando sentava no chão no maternal...

Bom, o filme é espetacular e dispensa comentários. Ganhou o Oscar de melhor estrangeiro este ano. É intenso, dramático, engraçado, violento, assustador e romântico.

Terminada a sessão às 23h30, fui pagar o estacionamento naquela maquininha. Nunca havia usado a maldita. Fui a primeira da fila e, portanto, tinha uma galera atrás de mim esperando. Como boa brasileira, não leio placas. Totalmente sem noção, enfiei uma nota de dois reais, que foi prontamente cuspida depois. E não só cuspida. Foi arremessada! Enquanto eu estava na posição humilhante de apanhar o dinheiro no chão, o senhor que estava atrás fala: "Só aceita cédula de 5 e 10". Que beleza, hein?! Vou ter que pagar lá no guichê mesmo. Mas como eu pegava meu cartão de volta?! Obviamente, pensei isso em voz alta e o mesmo cara disse: "Aí em cima, oh... 'Cancelar'". Ops!

Apertei o botão, peguei o cartão o mais rápido que eu pude e corri pro elevador desejando ser invisível. Mas o dito cujo chegou ao mesmo tempo em que O MESMO CASAL estava vindo na minha direção. Eu, muito legal como sempre, segurei a porta pra eles.

Cheguei em casa sã, salva e aliviada. Agora eu já sei que não preciso mais perder nenhum filme bacana. Sou uma ótima companhia pra mim mesma. Meu alto déficit de atenção somado a uma onda de azar sem fim não chegam a estragar meu programa. Foi bom. Foi uma vitória. Palmas pra mim!

E para fechar a noite com chave de ouro, quando eu já estava morta de satisfeita deitada pra dormir, meu melhor companheiro de cinema veio me dizer que se eu tivesse chamado ele teria ido comigo. Eu mereço...

P.S: O filme passa uma mensagem muito bacana: "Pare de pensar, senão você terá mil passados e nenhum futuro."

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Tudo ou nada

"Bia não sabia por que, mas sentiu falta de Marcelo. Sabia apenas que ele seria seu novamente e que estava na palma da mão. Bastava voltar. Pedro também sabia, e ao ouvir que seria descartado mais uma vez depois de tudo o que lutou, foi sua vez de se desesperar.

Por telefone, Bia deu seu veredito final e descartou Pedro, que acatou, mas também tomou sua decisão. Marcelo saberia de tudo. Surpresa, porém ciente da coragem de Pedro, Bia correu com seus próprios pés até a casa de Marcelo, achando que evitaria que ele soubesse a verdade. Não era longe, mas não tão próximo. Era o suficiente para que ele ouvisse de Pedro, quase com detalhes, o que havia acontecido antes e depois de perder seu primeiro grande amor.

Quando Bia chegou ofegante já era tarde. Marcelo apenas perguntou se procedia o que ele acabara de ouvir de um estranho, e ela humildemente confirmou. Os dois suavam frio. Um de decepção. O outro de remorso. Ainda bem que estavam sozinhos na casa. Bia passou mal. Marcelo chorou e esmurrou a parede.

Depois de tentar explicar o inexplicável, Bia foi embora sem Pedro e sem Marcelo. Por algum rápido momento em um passado recente, ela já havia previsto esse final. O sentimento que tinha por Pedro, por mais que ela nunca tenha conseguido entender, transformou-se em ódio naquele dia. Ele sabia que cometera um grande erro, mas não conseguia se arrepender. "Se não vai ser minha, também não será de ninguém", pensava.

Aquele não era o fim. Na verdade, o fim não estava nem próximo. Bia ainda teria tudo de novo: Marcelo e Pedro."

terça-feira, 25 de maio de 2010

1, 2, 3, 4, 5...


Nos últimos dois meses eu ouvi muita coisa de muita gente. Mas três frasezinhas foram "especiais."

A primeira foi de uma amiga, que por ser uma grande amiga e estar grávida, eu respirei fundo e fingi que não ouvi. Como eu estava vivendo uma tremenda dor de cotovelo na época, ela disse: "Menina, sai dessa adolescência..."

A segunda foi da minha manicure, que como um ser ignorante e totalmente sem importância na minha vida (exceto o fato de cuidar das minhas unhas uma vez ou outra), comentou a notícia do noivado da minha irmã de 17 anos com o seguinte comentário: "Mulher, tem vergonha! Tua irmã que é mais nova já vai casar e tu ainda tá nessa?"

A terceira foi do pai de uma amiga que, por ele ter mais idade e ser como um segundo pai pra mim, eu respondi de forma bem meiguinha. Ao saber que eu estava solteira e vendo todas as minhas outras amigas se casando, soltou a pérola: "Manu, tu vai ficar pra titia mesmo, é?" Eu, delicadamente, respondi: "Tio, se eu ficar eu vou ser feliz do mesmo jeito."

Não tenham dúvidas de que a primeira resposta que me veio à cabeça em todas as situações foi: "Foda-se!"

E eu não paro de me surpreender comigo mesma.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Homens X Meninos


"Garotos não resistem aos seus mistérios. Garotos nunca dizem não..." (Leoni)

Lá estava eu no casamento de mais uma amiga, morta de feliz já sem sandália e dançando como se não houvesse amanhã, quando a noiva (a essa altura já casada) chega e diz:

Amiga: "Manu, vem cá que eu quero te apresentar uma pessoa".
Eu: "Tá..."
Amiga: "Esse é aqui o Fulano. Fulano, essa é a Manu"
Eu: "Oi, tudo bem?" - pegando no braço e dando dois beijinhos.
Amiga: "Ele é amigo do Sicrano (o marido dela) e foi nosso padrinho"
Eu: "Sério? Que legal!"
Fulano: (sorriso amarelo e silêncio)

Diante da mudez do cidadão e do constrangimento que eu sinto em cenas assim, continuei na minha, dançando e conversando com os amigos, e o rapaz acabou indo embora sem eu nem perceber. Nesse momento, enquanto eu fazia palhaçada com o irmão mais novo da minha amiga e os colegas dele, uma luz caiu sobre mim e tudo começou a fazer sentido.

Eu até me esforço para me interessar por moçoilos da minha idade ou mais velhos, como a grande maioria das mulheres. Mas fica complicado quando um cara se interessa por você e viabiliza um ritual todo formal como esse do diálogo. Eu não sou formal. Odeio formalidades e pessoas sérias. É muito constrangedor e eu, como não sou tímida, odeio me sentir constrangida. Provavelmente, se fosse um cara mais novo teria sido mais original como tenho visto ultimamente.

Além da questão física (porque isso conta sim!), "meninos" sempre me pareceram mais interessantes, pois eles têm uma alegria de viver parecida com a minha e que eu ainda não encontrei em "homem" nenhum. Para me encantar tem que me fazer rir. Tem que me divertir e muito. Carro, independência e a necessidade de um compromisso são fatores que não me comovem se não vierem acompanhados de muita malandragem (no bom sentido, óbvio), bom-humor e aquele olhar de quem está descobrindo o melhor da vida e achando tudo o máximo. Maturidade nenhuma substitui isso.

Homens te levam pra jantar no melhor restaurante e pagam a conta achando que são a última bolacha do pacote. Não, querido. Pode parecer estranho, mas eu trabalho para rachar a conta. O que eu quero em troca é dar muita risada a noite toda. O que eu quero é esquecer aquela situação em que não se sabe onde colocar as mãos e poder conversar sobre qualquer besteira, desde o Projeto Ficha Limpa até o fato de eu não querer assistir Avatar e você tirar onda comigo por isso.

Claro! É preciso haver um equlíbrio. O ideal não existe, e se existe tem um prazo de validade. Homens são cansativos. Meninos são imaturos e egoístas. Homens são decididos. Meninos te divertem. Homens acham que já sabem de tudo. Meninos querem saber de tudo. Homens te protegem. Meninos deixam você cuidar deles.

É confuso demais pra minha cabecinha loira, mas é muito simples de entender. Há meninos que podem até te fazer feliz, mas chega uma hora em que eles não seguram a onda da complexidade de uma mulher de verdade. Já os homens se tornam previsíveis e te fazem sentir dependente deles. E agora?

Agora continuemos à procura da batida perfeita.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Velha infância


"Depois de meses de angústia, dúvida, pressão e muito medo, Bia finalmente criou coragem. Em uma briguinha besta, terminou o namoro com Marcelo que, com toda razão, enlouqueceu enquanto assistia seu mundo desmoronar em minutos. Era noite de uma segunda-feira de agosto.

Na manhã seguinte, após uma madrugada de muita ansiedade e pouco sono, Bia chegou à faculdade com um único objetivo em mente: comunicar Pedro que ele, finalmente, havia conseguido o que tanto pediu à chuva que caía na piscina e se misturava às suas lágrimas.

Quando Pedro a avistou na porta da sala com um sorriso no rosto, qualquer palavra que Bia falasse seria desnecessária. Ele jogou os livros no chão e olhou pra ela, entendendo o recado imediatamente. Pedro apenas abriu os braços e abraçou Bia como se não quisesse soltar jamais, mesmo sem força nenhuma de tanto que tremia de felicidade.

Os dias que se seguiram foram vividos como se fossem os últimos. E talvez seriam, não fosse uma série de ironias e sentimentos que iam se revelendo no decorrer dos anos. (Mas isso fica para um próximo post) Ainda naquela mesma semana, foi o mundo de Bia que desmoronou. A verdade que foi mentira durante anos caiu sobre seu doce lar. Sua família ficou em pedaços e ela não tinha como juntá-los. Talvez nem quisesse.

Pedro seria seu suporte. E foi. No dia seguinte à tempestade, em mais uma tentativa de libertação e de esquecer suas dores, após a pergunta de Pedro, "tem certeza?", a aparente inocência de Bia foi levada. Se era para mudar a vida que fosse de uma vez.

Foram três ritos de passagem vividos em menos de sete dias. Bia estava abrindo o seu porão pessoal e descobrindo um baú cheio de armaduras que, dali em diante, fariam dela a guerreira que é hoje. Mal sabia ela que a vida adulta estava apenas começando."


Trecho do livro que eu preciso escrever um dia.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O que faz você feliz?


Comerciais de supermercado à parte, essa pergunta é tão antiga quanto a busca pelo sentido da vida. Há quem diga que felicidade é um estado de espírito. Outros defendem que com saúde, família e trabalho não se pode reclamar de nada.

Sem entrar nessa discussão, resolvi listar os momentos que me deixam feliz. Aquelas pequenas cenas que desenham um sorrisão no meu rosto ou que, simplesmente, acalmam o coração, dando uma forte certeza de que viver vale a pena demais.

O que me faz feliz?

- Ter a programação do final de semana fechado já na segunda-feira
- Babar por um doce na vitrine e ter tempo e dinheiro pra matar o desejo
- Assistir a um filme e conseguir explicar por que gostei tanto
- Comer caranguejo com o pé na areia
- Feriado na segunda-feira
- Surpresa de namorado
- Pedido de desculpa sincero
- Pegar um bebê no colo
- Brincar com uma criança
- Escrever e ter certeza de que ficou bom
- Hora de lanchar
- Conversar putaria
- Constatar que o tempo passou e tudo ficou resolvido
- Um abraço inesperado
- Beijo roubado
- Acordar cedo e lembrar que posso dormir mais
- Dirigir cantando
- Pintar minhas próprias unhas
- Reencontrar antigos amigos e relembrar antigas piadas (elas parecem mais engraçadas com o passar do tempo)
- Pão com manteiga mergulhado no café bem quente

Felizes aqueles que têm uma listinha assim.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Let's dance!


"The body says what words cannot."
(Martha Graham)

A dança é uma das poucas artes cuja matéria-prima é o próprio artista. Dançar não apenas modela o corpo, mas também exercita o coração.

Sempre adorei dançar. Quando criança, não ia para as festinhas de aniversário para brincar com o palhaço. Eu queria pôr em prática as coreografias da Xuxa que eu aprendia só de assisti-la na TV. Sempre fui exibida. Adorava e ainda adoro um palco.

Dançar faz bem pra mente e pra alma. Enquanto eu me movimento, o mundo para. Sou só eu e eu. Se não for ensaiado, a música me leva pra onde ela quer e aonde a melodia pedir. Se for coreografado, em minutos o sentido da vida é só um: sincronizar. É o meu ideal instantâneo de perfeição.

Enquanto eu danço me sinto livre. Quem vê nem imagina como é difícil e como rola todo um diálogo tenso entre pernas, braços, pés, mãos, cabeça... O coração dispara antes de dançar e depois. Durante, parece que ele nem existe. Qualquer sentimento some. Dissolve no ar de tanto que eu me mexo.

Mas dançar também é sofrer. Não é qualquer um que consegue fazer do corpo a sua língua. Fora isso, ainda existe a dor em seu mais real e absoluto sentido. Sapatilha de ponta dói, distensão na coxa dói, alongamento dói, tornozelo inchado dói, errar o passo dói que só.

Não tem sensação melhor do que fazer um grand jeté lindo, com as pernas em 180° graus perfeitos. Dá vontade de ficar lá, voando, subindo, parando no ar em câmera lenta. Que sensação!

Eu sempre fui molenga, estabanada e acelerada. Tinha que aproveitar isso para algo útil que não fosse destruir enfeites e me esbarrar nas pessoas. Antigamente eu dançava por conta própria, só pelo prazer mesmo. Entrei no ballet há cinco anos. Na verdade eu me matriculei no jazz, que é minha verdadeira e derradeira paixão. Mas a turma não fechou e eu vi que o ballet é bem mais completo. Quem dança clássico dança tudo!

Os movimentos do ballet clássico são muito calculados, lentos e contidos. Uma pessoa agoniada como eu não pode se jogar. Ela precisa se conter ao máximo, o que, para mim, é um desafio diário e eterno. Desde que me conheço por gente, minha eterna luta é essa: me conter e ir devagar. E até nisso o ballet tem me ajudado. Nas aulas, canso de escutar a professora falando coisas do tipo: 'calma!', 'não rebola!', 'devagar!'

E mesmo ainda um pouco aperreada, não desisto. Continuo querendo ser leve e contida. Tentando calcular o movimento com paciência e delicadeza antes de cada passinho, e sem olhar para o chão! Nas pontas do pés, vou desafiando os limites até a música conseguir me parar.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

TIC-TAC


Tudo na vida tem uma hora certa para acontecer. Caso pareça cedo ou tarde, um dia vai ser facilmente compreendido. E se não for, é sempre possível encontrar justificativas, nem que sejam aquelas mais absurdas, como "é porque não era a hora" ou "o que tiver de ser vai ser" (odeio essa última!).

Na maioria das vezes, sou eu mesma que dito meu tempo. Obviamente, só eu conheço meu cronos pessoal. Já aquela força externa que governa minha vida (sinceramente, não sei se é Deus) muitas vezes de forma frustrante, que eu também chamo de azar, concede-me um mínimo de horas sobre as quais eu posso interceder.

Algumas situações são inevitáveis. Adiar é a melhor saída? É melhor deixar rolar logo e se preocupar só depois? Qual a opção mais digna e com a menor margem de erro? Nunca se sabe. O máximo que a gente faz é se basear nas experiências anteriores e tirar a lição.

Eu só sei que o tempo passa. É uma das poucas verdades absolutas do mundo. O relógio continua girando e cumprindo sua missão independente do que aconteça. Na realidade, nós é que vivemos em função do tempo e nos moldamos a ele. É uma corrida infinita. O tic-tac só é relativo mesmo quando é subjetivo. O que pode ser cedo para mim pode ser tarde para você. E é aí que começa toda a confusão.

Ninguém entende o tempo do outro. Todos têm pressa para realizar suas vontades e solucionar seus medos e dúvidas. Eu sei que quando menos se espera, o tempo passou e você está numa outra vibe e já correndo de novo para atingir outras metas.

O que eu desejo nessa bagunça toda é só fazer o que quero e não deixar nada para depois. Isso me prejudica um bocado, mas a esperança está em esperar que eu entre o mais rápido possível na próxima vibe.

Quando o assunto é tempo, ser mulher (para variar) é uma merda. A impressão que dá é que todos à minha volta estão alternando olhares para o relógio e para mim. É porque... Sabe como é, né? Eu preciso chegar aos 30 linda e maravilhosa, ter a vida profissional e amorosa estáveis, entregar trabalhos no prazo, fazer uma atividade física, nunca parar de estudar, viajar o mundo, falar umas três línguas e por aí vai. Não posso JAMAIS aparentar estar parada. E eu aprecio tanto ficar quietinha no meu canto sem ter nada para fazer...

Toda mulher hoje vive comandada pelo deus do tempo ou por pequenos tempos paralelos. Qual a melhor idade para ter um filho? Adia o casamento e faz uma festa de arromba ou se junta logo e faz só uma feijoada para os amigos? "Sai" com o cara no primeiro encontro? No segundo? No terceiro? Espera a poeira baixar para conversar com o ex e entender o que diabo foi que deu nele ou liga logo o 'foda-se'? Acorda cedo para ir correr e ficar sarada ou dorme mais e garante o bom humor durante o dia?

E se eu não me sinto com 26 anos? E se eu ainda danço ballet, rolo no chão, saio pra farra no meio da semana e ainda não tenho planos de sair de casa? E se eu me apaixonar do nada e quiser emendar um namoro no outro? E se eu não for do tipo que faz joguinho e adia algo só para parecer difícil? E se de uma hora para outra eu resolver que o carpe diem é uma bobagem e começar a viver devagar e com calma? Quando eu morrer eu não vou mais estar viva para me arrepender, ora! Já era!

Revoltas à parte, eu respeito o meu tempo. Ele já é ambíguo demais para mim, imagina para os outros. Eu sou lenta e também muuuuito agoniada. Como uma boa egoísta, tenho pressa para tudo o que me interessa. E daí se que eu quero que as lágrimas durem segundos e os sorrisos durem meses?

terça-feira, 11 de maio de 2010

Luz, câmera, paixão!


Comecei a gostar de cinema aos 16 anos, época que tive meu primeiro namorado e nós só podíamos fazer, praticamente, este único tipo de programa. A gente ia toda semana. Chegávamos ao ponto de já ter visto todos os filmes que estavam passando na cidade e ficávamos sem opção. O jeito era ficar em casa ou ir ao shopping só pra lanchar. De tanto ir ao cinema, comecei a aprender os nomes de alguns atores e diretores, e a esperar ansiosamente pelas próximas estreias. Foi totalmente por acaso.

Hoje, assistir filmes virou um hábito necessário. Não apenas uma distração ou uma forma de entretenimento, mas de conhecimento também. Adoro ler sobre o assunto, saber as novidades, conhecer obras de diretores antigos, estudar, analisar... Já pensei em fazer cinema, mas nunca levei a ideia adiante. Acho que eu gosto mesmo é de falar de cinema. Apesar de ter muita curiosidade de ver um filme meu. Ia ser uma mistura doida de referências e influências. Faria algo bem diferente.

A sétima arte traz o mundo até mim. Um lugar onde eu não posso estar ou uma época que eu não pude viver. Por isso sempre preferi os filmes realistas aos fantásticos. Quando comecei essa jornada, assisti de tudo e fui conhecendo os meus gostos. Aprendi, por exemplo, que não gosto quando estipulam gêneros. Drama, comédia, ação, aventura? Um bom filme pode ter de tudo um pouco ou mesmo nada. Nunca se sabe. Considero um filme bom quando ele me envolve, emociona, choca, assusta, faz pensar!

Acredito que o gosto cinematográfico de uma pessoa reflete, e muito, o que ela é. Tipo, você é o que você assiste. Minha personalidade meio infantil e idealista que se choca com o lado mais pessimista e seco me faz babar por filmes com roteiros meio oníricos e fotografias deslumbrantes e por outros mais dramáticos, complexos e minimalistas.

Gosto de sair do cinema querendo saber mais sobre o que acabei de assistir. Por isso adoro os filmes inspirados em fatos reais ou os que exploram temas bem humanos, como doenças, relacionamentos, traumas, sonhos... tudo de forma sutil ou então bem exagerada. Mais um traço bem típico meu.

Hoje meus ídolos são grandes diretores. Tarantino, Almodóvar, Jean-Pierre Jeunet, Scorsese, Truffaut, Hitchcock, Kubrick... Cada um no seu estilo. Cada um representa uma peça diferente que forma o quebra-cabeça confuso que eu sou. É neles que eu me vejo e me entendo. É no escurinho do cinema que eu deliro e sou plenamente feliz.

Ainda tenho muito o que aprender sobre cinema. E é uma das poucas coisas sobre as quais eu tenho uma sede enorme de me informar. Ainda tem muito filme em preto e branco para ver, ainda tem muito clássico para eu assistir. O cinema me dá a sensação de que posso desbravar o mundo sem sair do lugar. E isso é fantástico.

"O cinema é o modo mais direto de entrar em competição com Deus."
(Federico Fellini)

domingo, 9 de maio de 2010

"Minha estrelinha, raio de sol..."


Hoje é dia das mães. Um dia, pra mim, muito especial. Minha mãe não é só uma mulher ou uma mãe, mas a pessoa mais incrível que eu conheço. Ela parece que tem uma aura colorida e leve durante as 24 horas do dia. Em qualquer ambiente que ela chega, parece que entra uma luz e uma alegria fenomenais.

Minha mãe é uma guerreira e, de uns tempos pra cá, eu tenho tido a felicidade de me tocar que me pareço com ela nesse aspecto. É a melhor, de inúmeras qualidades que ela tem, que eu podia herdar. E parece que ela me passa isso por osmose, sabe? No abraço gostoso e cheiroso, no beijo e no carinho que ela me faz desde que eu sou um bebê. Até hoje ela me embala pra dormir quando preciso. Até hoje, se eu quiser, ela balança meu bumbum e canta pra mim até eu pegar no sono. Pode parecer infantil, mas eu não me importo mesmo. Eu tenho é muita sorte!

Talvez seja por isso que eu não me sinto com a idade que tenho. A relação com a minha mãe é tão próxima e tão dependente que ainda me vejo como uma criança e morro de medo de crescer. Minha mãe parece ser inatingível. Apesar de saber que não é bem assim, eu vejo nela um prazer de viver e uma dedicação em manter a paz na nossa casa que são impressionantes. Ela sabe de tudo. Sabe como viver e como lidar com qualquer pessoa ou situação. Não tem quem não goste dela.

É humana e de um coração de dar inveja à Madre Tereza de Calcutá. Não tem preconceitos, inveja, despeito... Sabe muito bem o que importa nessa vida e sempre deu, a mim e aos meus irmãos, uma educação impecável. A gente acaba sendo assim só por se espelhar nela. Só pelos exemplos que ela dá. A gente quer ser igual a ela, sabe? E aí acaba fazendo tudo certinho. É algo meio que inconsciente.

Agora ela deu pra ler meu blog. E fica toda besta. Nem entendo muito por que. Mas tudo que eu faço, até hoje, ela acha lindo. Vai me ver dançar SEMPRE. Beija, abraça, dá parabéns e ainda sai espalhando para as amigas. Confesso que às vezes morro de vergonha, mas sei que a felicidade dela está nessas coisinhas. Está em me ver seguindo a vida com saúde, alegria e dignidade.

Fui ver o tamanho da importância da minha mãe 'depois de velha'. Quando eu era mais nova nós batíamos muito de frente. E adolescente é uma merda mesmo, né? Mas o melhor foi que nós duas amadurecemos nossa relação juntas. Ambas foram vendo o quanto uma precisa da outra, e criamos uma cumplicidade vital.

Há uma teoria da conspiração aí que diz que datas assim, como dia das mães, dos pais, dos namorados etc., são puramente comerciais. Pode até ser, mas eu acredito que sejam necessárias para, pelo menos uma vezinha, as pessoas darem valor e fazerem algo especialmente dedicado a quem merece. E a minha mãe é, sem dúvida, merecedora de 365 dias especiais por ano.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Blindness

Ontem um amigo me contou que a namorada dele tem mania de perguntar quem é e de onde ele conhece toda e qualquer mulher que fala com ele no twitter, orkut, celular, etc... Que sempre faz esse tipo de coisa e isso, óbvio, já é motivo para intermináveis discussões. Depois eu fiquei pensando o quanto eu abomino comportamentos assim e como a vida já tratou de me ensinar (muito bem, por sinal) que isso é péssimo e chega a ser patético.

Se tem uma coisa que eu aprendi é que há coisas que é melhor a gente não saber. Não que eu goste de ser enganada. Jamais! Mas acredito que temos poder sobre uns 80% da nossa vida, inclusive sobre as informações que recebemos e que, hoje em dia, são facilmente colhidas em qualquer lugar e a qualquer hora.

Nunca fui de futricar orkut de seu ninguém, por exemplo. Para que diabos eu quero saber da vida de alguém que eu nem conheço? E se eu conhecer eu mesma pergunto, ora! E em certos casos, por mais que eu conheça, prefiro não saber e fujo de qualquer notícia. E é facílimo. Não é esforço nenhum. Tem gente que gosta de se maltratar, mas eu não sou ALOCKA de entrar numa roubada dessas. Meu bem-estar vem antes de tudo e de todos.

Mulher é um bicho esquisito. Parece que precisa sempre de algo para se sentir superior, poder reclamar e ter razão. É um ser em constante necessidade de provação. Culpa da velha cobrança moral que carregamos nas costas desde o nascimento. Sorte das que conseguem relaxar e já se tocaram que a tal superioridade (???), que eu prefiro chamar de autoconfiança, está em saber colocar sua felicidade acima de tudo e preservá-la. Não precisa se maltratar. A conta sempre chega.

Ter segurança é o grande lance. Claro que é algo que se adquire com o tempo. Fazer barraco? Pra que, gata? Com autoconfiança você passa por cima de qualquer escândalo e não corre o risco de acordar arrependida no outro dia e se justificando toda hora. E pare de curiar a vida alheia. Assista a um reality show que é até mais jogo. Acreditar nas pessoas também é bacana. Eu sou assim: todo mundo é bom até que me prove o contrário. Nada de sofrer por antecipação.

Uma mulher traída, por exemplo, que passou anos e anos levando chifre do marido e só soube muito depois... Ela foi feliz todo esse tempo, cara. Quem teve que fazer das tripas coração para não ser descoberto e viveu uma vida dupla foi ele! Ela foi feliz, pois acreditou na felicidade que, de fato, existiu. Relaxe e deixe a verdade aparecer na hora certa para sofrer. Quem procura acha, lembra? Até porque, quando você procura, inconscientemente, já sabe o que quer encontrar. Portanto, qualquer merdinha vai ser suficiente para imaginar mil coisas que talvez não terão fundamento nenhum.

Só para não perder o costume de usar ditados (é coisa de avó, mas eu adoooro!), o que os olhos não veem o coração não sente. Levo isso como um dos meus princípios de vida. Que sempre vai ter alguém para lhe machucar, tudo bem. Mas você mesmo? É inadmissível.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Para poucos



Winston Churchill disse: "A coragem é a primeira qualidade humana, pois garante todas as outras."

Quando li essa frase há cerca de um mês, foi como se abrisse uma clareira em meio às trevas. Tudo ficou muito mais nítido. É realmente preciso o mínimo de coragem para peitar qualquer tipo de desafio e alcançar uma personalidade cada vez mais digna.

Se encararmos a vida como um eterno estágio, seremos capazes de aprender e evoluir todos os dias. A coragem é básica para tudo. Para assumir erros e consertá-los, refletir sobre as duras críticas às quais somos submetidos diariamente, lutar pelo que acreditamos, para pedir perdão, perdoar, recuperar o tempo perdido, recomeçar, amar, odiar, esquecer, aceitar...

Nada mais vergonhoso que fugir de um problema. Nada mais covarde que ver a tal pedra no caminho e recuar. Nada mais humilhante que fugir. É duro tomar decisões. Mais duro ainda é anunciá-las. É preciso uma coragem suprema para isso. Felizes aqueles que fecham os olhos, respiram fundo e se jogam. Que seguem o coração, mesmo entupido de medos e dúvidas.

Eu tenho um medo bem particular. O medo do novo. Seja um emprego novo, amigo novo, namorado novo, casa nova, carro novo... Sair da zona de conforto à qual estou acostumada me deixa apavorada. Mas sempre lembro como é fantástico olhar para trás e ver que eu subi mais um degrau. Sim, porque encarar o medo só nos leva para cima!

Às vezes, até um simples dia que começa dá receio, pois acordar também requer coragem. E ter que falar o que seu coração não diz nem a pau, mas que é necessário para sua saúde emocional então, é mais foda ainda! Na escola, por exemplo, eu sempre pedia para ser a primeira a apresentar o trabalho lá na frente, pois queria me livrar logo do sufoco.

Uma amiga me disse uma vez que pessoas que se suicidam têm muita coragem de fazer uma loucura dessas. Na verdade, elas são grandes covardes. Sempre que um novo obstáculo surge à sua frente e você prefere se omitir, você está cometendo um pequeno suicídio. E como em todos esses casos, o "morto" acaba machucando quem não tem nada a ver com a história. Outra grande prova de covardia.

Lembro demais do Leão Covarde, do Mágico de Oz, que acompanha a Dorothy e sai em busca de coragem. Mal sabe ele o quanto foi corajoso de lutar pelo que precisava.

Você sabia que...
Apesar de o leão ser o rei da selva, é a leoa que sai para caçar e captura o alimento para os filhotes? Pois é.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Do lado esquerdo do peito


Amigo é, sem dúvida, o bem mais precioso que a gente tem. Precioso porque é preciso manter, cuidar, preservar, guardar numa caixinha. Família também é muito importante, mas a gente não escolhe, aprende a amar desde pequeno e não tem jeito.

Quando você escolhe ser amigo ou aceita uma amizade, compromete-se em um acordo imaginário, e talvez inconsciente, de lealdade e companheirismo até o fim da vida. Não existe ex-amigo. A amizade é, graças a Deus, uma relação que não se acaba assim do nada sem dar explicações ou apenas porque um dos dois decidiu. Salve raras exceções, amigo de verdade nunca deixa de ser amigo.

Repare bem: a vida segue seu rumo, as relações amorosas vem e vão, mas os verdadeiros amigos estão lá no lugar que você sabe direitinho onde procurar. Amizades duram décadas. É um tempo que, raramente, nós damos conta. Eu, por exemplo, tenho uma amizade de mais de 20 anos, e olha que não tenho nem 30 de vida. É fantástico constatar como é bom estar cercada de pessoas que você conhece tão bem de um jeito que dá até para adivinhar pensamentos.

Os novos amigos também são uma delícia. Neste último mês eu ganhei alguns. Não muitos. Até porque meus amigos de verdade eu conto nos dedos. Amigos não fazem milagres por você, não resolvem seus problemas. Eles apenas seguram sua mão quando você está caindo ou para te dar confiança após uma decisão delicada. Amigo é aquele que não vai concordar com tudo o que você fala ou faz, mas que sabe alertar e criticar de forma sábia sem deixar você se sentindo a pior pessoa do mundo.

E os amigos que ressurgem das cinzas? Ou que você tinha e nem se dava conta? São anjos. Não importa se faz tempo que vocês não se falam, quando você precisa ele está lá na sua porta com o abraço mais gostoso e as palavras mais deliciosas de se ouvir. E por mais que o ditado "quem avisa amigo é" seja um fato, quando, mesmo assim, você insiste em alguma burrice e se lasca, o amigo de verdade não vai passar na sua cara depois. Ele vai te ajudar a sair do buraco do mesmo jeito.

Meus melhores amigos são homens. E são realmente os melhores. Mas nada se compara àquele papo mulherzinha que tenho com as amigas num lanche, num café, na mesa de um bar ou na casa de uma delas. Conversa de mulher é a oitava maravilha do mundo. A riqueza de detalhes, a solidariedade ao xingar alguém e a constatação de que nós passamos, exatamente, pelos mesmos perrengues é mágico. E se as amigas são de infância, nunca falta bagunça para recordar.

Há ainda os amigos de farra, que por mais inúteis que possam parecer, eles são essenciais. Nem que seja para te dar um abraço no meio de uma bebedeira e dizer que te ama. E é de coração. Afinal, o álcool entra e a verdade sai, não é? E quando eles te levam para todo e qualquer buraco só para você não ficar em casa chorando e te dão uma noitada inesquecível que na manhã seguinte você nem lembra mais por que estava triste?! =)

Ter amigos é uma riqueza. E como minha mãe diz, eu sou uma milionária!