sexta-feira, 14 de maio de 2010

Let's dance!


"The body says what words cannot."
(Martha Graham)

A dança é uma das poucas artes cuja matéria-prima é o próprio artista. Dançar não apenas modela o corpo, mas também exercita o coração.

Sempre adorei dançar. Quando criança, não ia para as festinhas de aniversário para brincar com o palhaço. Eu queria pôr em prática as coreografias da Xuxa que eu aprendia só de assisti-la na TV. Sempre fui exibida. Adorava e ainda adoro um palco.

Dançar faz bem pra mente e pra alma. Enquanto eu me movimento, o mundo para. Sou só eu e eu. Se não for ensaiado, a música me leva pra onde ela quer e aonde a melodia pedir. Se for coreografado, em minutos o sentido da vida é só um: sincronizar. É o meu ideal instantâneo de perfeição.

Enquanto eu danço me sinto livre. Quem vê nem imagina como é difícil e como rola todo um diálogo tenso entre pernas, braços, pés, mãos, cabeça... O coração dispara antes de dançar e depois. Durante, parece que ele nem existe. Qualquer sentimento some. Dissolve no ar de tanto que eu me mexo.

Mas dançar também é sofrer. Não é qualquer um que consegue fazer do corpo a sua língua. Fora isso, ainda existe a dor em seu mais real e absoluto sentido. Sapatilha de ponta dói, distensão na coxa dói, alongamento dói, tornozelo inchado dói, errar o passo dói que só.

Não tem sensação melhor do que fazer um grand jeté lindo, com as pernas em 180° graus perfeitos. Dá vontade de ficar lá, voando, subindo, parando no ar em câmera lenta. Que sensação!

Eu sempre fui molenga, estabanada e acelerada. Tinha que aproveitar isso para algo útil que não fosse destruir enfeites e me esbarrar nas pessoas. Antigamente eu dançava por conta própria, só pelo prazer mesmo. Entrei no ballet há cinco anos. Na verdade eu me matriculei no jazz, que é minha verdadeira e derradeira paixão. Mas a turma não fechou e eu vi que o ballet é bem mais completo. Quem dança clássico dança tudo!

Os movimentos do ballet clássico são muito calculados, lentos e contidos. Uma pessoa agoniada como eu não pode se jogar. Ela precisa se conter ao máximo, o que, para mim, é um desafio diário e eterno. Desde que me conheço por gente, minha eterna luta é essa: me conter e ir devagar. E até nisso o ballet tem me ajudado. Nas aulas, canso de escutar a professora falando coisas do tipo: 'calma!', 'não rebola!', 'devagar!'

E mesmo ainda um pouco aperreada, não desisto. Continuo querendo ser leve e contida. Tentando calcular o movimento com paciência e delicadeza antes de cada passinho, e sem olhar para o chão! Nas pontas do pés, vou desafiando os limites até a música conseguir me parar.

Um comentário:

  1. " Mas dançar também é sofrer "...joelho inchado dóooooi!!! Dar uma de bailarina e perceber que não tem mais "aquela flexibilidade toda", dói no fundo da alma...mas nada paga o prazer do dia da apresentação! Bjo amiga linda da sapatilha de ponta!

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